Livro traz depoimentos sobre fotografias não tiradas - Tradução e edição: Leticia Nunes | Observatório da Imprensa | Observatório da Imprensa - Você nunca mais vai ler jornal do mesmo jeito:
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quinta-feira, 21 de junho de 2012
EXPOSIÇÃO : “ÍNDIA! – a sedução da imagem”

Segunda Eugênio, essa mudança é
sobre tudo visual. Isso por si só já justifica uma investigação fotográfica
sobre o fenômeno. A indumentária das índias mudou muito nos últimos anos. Há
quem diga que sofremos influência do boi de Parintis, mas e daí? Que mal há em
ser influenciado, sobretudo quando a influência é boa? Só o Maranhão é que não
pode sofrer influência de ninguém? Seremos obrigados a professar eternamente
uma falsa originalidade?” – indaga Eugênio. Bumba-meu-boi há no Brasil inteiro,
só que com características diferentes. Muitos personagens são fixos como na
estrutura da Commedia de L’arte italiana,
e o índio aparece em todos os relatos, de norte a sul. O papel dele é de suma
importância, pois é o pajé quem ressuscita o boi, morto por Pai Francisco na
tentativa de apaziguar o desejo da esposa grávida. O boi é levado para
floresta, domínio dos indígenas. Assim, sua presença no folguedo é obrigatória.
São os índios quem procuram, acham e ressuscitam o boi perdido e morto para que
a festa possa continuar.
O que aconteceu nos últimos anos
foi a evidencia da feminilização deste personagem indígena. Hoje ele é
representado preferencialmente por belas jovens
de corpo escultural, que garantem o sucesso dos grupos. Cada boi se
esforça por formar batalhões de índias cada vez maiores e a preocupação com a
indumentária é primordial. A roupa de índia é uma das mais caras da
brincadeira, já que é sempre muito emplumada e bordada. É nítida também a
influência da estética carnavalesca
sobre o folguedo junino. Segundo Eugênio Araújo, que também trabalha com
carnaval, essa é uma tendência compreensível, pois a estética carnavalesca
brasileira é muito forte e amplamente veiculada pelos meios de comunicação de
massa, o que deve impressionar inclusive aqueles que não fazem parte do
carnaval. As festas juninas estão mudando, pegaram algo do carnaval, estão se
tornado cada vez mais sofisticadas, os arraiáis são cenográficos, as roupas são
mais cheias de brilho e plumagem, tudo isso se insere dentro de uma perspectiva
de crescimento e enriquecimento das classes populares brasileiras. Se o povo
muda de condição sócio-econômica, é claro que suas brincadeiras também devem
mudar. A figura feminina da índia representa bem esse processo de crescimento e
mudança pra melhor. Tidas como “trunfos” dos conjuntos de bumba-boi, as índias
encarnam o símbolo da mulher enquanto propriedade masculina (já que os donos e
amos dos bois são sempre homens que se referem a elas como “nossas índias”),
mas propriedade muito bem cuidada, enfeitada, endeusada, transformada em objeto
de desejo que causa inveja. Muito da rivalidade entre grupos de boi se dá hoje
entre grupos de índias, elas são o conjunto visual e coreográfico de maior impacto do folguedo.
Foram necessárias algumas
estratégias para captar as imagens com a nitidez que essa sofisticação
crescente requer. Os artistas montaram um
mini-studio fotográfico nas proximidades dos arraiais e ali ficavam de
tocaia esperando as índias, que eram convidadas a posarem para fotos depois das
apresentações. “- Não queríamos fotos das índias em movimento, misturada com
outros personagens e nem com o público. Quisemos criar propositalmente uma
situação artificial de isolamento que pudesse destacar alguns pontos que
consideramos importantes nesse processo de transformação. Por isso precisamos
criar uma situação de iluminação eficiente, com fundo homogêneo, onde se pode
fazer uma viagem visual bem detalhada pelos atributos das índias: sua juventude
e beleza corporal, suas expressões faciais matreiras, suas roupas ricamente
bordadas e emplumadas, sua alegria plena em participar da brincadeira. O fato
de trabalharmos com fotos posadas não comprometeu em nada a espontaneidade das
meninas, que chegavam para fotografar ainda em ritmo de dança. Assim produzimos
imagens sutilmente diferentes daquelas que estamos acostumados a ver sobre
índias de bumba boi. Nossas índias são atrizes, não apenas bailarinas, elas
realmente encarnam e representam um papel, recuperando o sentido dramático da
brincadeira, têm uma majestade e dignidade que a foto posada evidencia” - conclui Eugênio Araújo. Outro diferencial é que adicionamos algumas
imagens de santos juninos em algumas fotos. Assim temos índias ao lado de Santo
Antônio, São Pedro e São João, recuperando também o sentido religioso original
do folguedo, ao mesmo tempo em que causamos alto contraste entre a imagem
religiosa e a semi-nudez das meninas.
Eugenio e Zé Cavalcanti estão
trabalhando juntos há algum tempo e adiantam que têm material para várias
outras exposições sobre bumba-meu-boi: foram captadas imagens dos outros
personagens (Vaqueiros, Amos, Catirinas, Cazumbás, etc.), além de detalhes dos
bordados das roupas e uma série só sobre bordados de couro de boi. É esperar
pra ver.
O que? EXPOSIÇÃO : “ÍNDIA! – a sedução da imagem”
FOTOGRAFIAS de Zé
Cavalcanti e Eugênio Araújo
Onde? Espaço JUS SARAU ( Rua João Vital, 101. Loja 06, Reviver, próximo ao
Museu de Cultura Popular)
Quando? Abertura: QUINTA, dia 21/06/2012, 19:30 hs
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