Obra do engenheiro João Fernandes
Pinto Alpoim, o Arco do Teles foi construído em meados do século XVIII para
ligar a antiga Praça do Carmo, hoje Praça XV, à Rua da Cruz, atual Rua do
Ouvidor. O arco fazia parte da residência da família Teles de Menezes, proprietária
dos prédios no local. Por isso o nome.
A área era frequentada por toda a
alta sociedade carioca, que muitas vezes era atraída pela devoção a uma imagem
de Nossa Senhora dos Prazeres, colocada em um espaço no interior do Arco do
Teles.
A obra provou sua força em 1790.
Nesse ano, um incêndio, que segundo alguns relatos foi criminoso, destruiu a
maior parte da casa dos Teles de Meneses, afetando o Arco, que acabou
resistindo. Muitos documentos históricos do Senado e da Câmara, que funcionavam
nos prédios vizinhos aos dos Teles, se perderam nesse caso. Entre os papéis
perdidos estavam toda a documentação referente aos primórdios da cidade,
inclusive os recibos e cobranças de foros (algo parecido com o IPTU) e os
registros gerais de imóveis. O curioso – e até engraçado – é que o incêndio
teria começado em uma loja térrea próxima à Rua Direita, onde existia um
comércio de objetos usados chamado de “O Caga Negócios”.
O trágico acontecimento forçou uma reconstrução imediata.
Devido a esse trabalho, muitos detalhes das construções originais foram
recuperados e hoje podem ser notados por quem caminha pela área, que é toda
destinada a pedestres e conserva o calçamento antigo, de pedras. No entanto,
essa não é a única passagem assustadora do Arco do Teles. Em um texto para o
site Mapas Antigos, Histórias Curiosas, Carlos Serqueira conta sobre uma
“bruxa” que assombrou o local. De acordo com o artigo, Bárbara dos Prazeres
(ficou conhecida assim por causa da imagem de Nossa Senhora dos Prazeres que
ficava no Arco) foi uma mulher que ao chegar de Portugal com o marido, se
envolveu amorosamente com um mulato. Para viver a paixão, ela matou o esposo
europeu. Tempos depois, Bárbara percebeu que o novo amor estava somente
interessado em suas posses, então, ela também o matou. Com dois crimes grandes
nas costas, restou à mulher o submundo da eterna fuga. Passou a se prostituir e
fazia ponto exatamente embaixo do Arco do Teles, que após o incêndio passou a
ser menos valorizado e virou área de malandros e mulheres da vida. O tempo
passou e Bárbara envelheceu. Não tendo mais clientes e já com algumas doenças
sexualmente transmissíveis, a mulher recorreu à magia negra. Um dos trabalhos
que fez tinha como objetivo recuperar a juventude perdida. Para conseguir isso,
ela precisava ingerir sangue morno de crianças. Não existem números exatos, mas
documentos constam que foram dezenas de pequenas vítimas. Dizem que Bárbara
pendurava as crianças pelos pés com uma corda, as esfaqueava e fiava embaixo
delas para banhar-se no sangue. O ritual acontecia na casa onde vivia, na ainda
isolada e perigosa Cidade Nova.
Em 1830, Bárbara sumiu no mundo sem avisar a ninguém. Nesse
mesmo ano, um cadáver de uma mulher apareceu boiando próximo ao Largo do Paço.
Embora as feições estivessem quase irreconhecíveis, alguns garantem que era
Bárbara. A assustadora criatura aparece nos registros policiais da época como
Bárbara dos Prazeres e também como Bárbara “Onça” – referência à sua
ferocidade. Teses defendem que nesse período surgiu a expressão: “cuidado que a
bruxa está solta!”.
“Há quem suspeite (lenda urbana?) que ela continua viva até hoje, graças ao segredo da fórmula de rejuvenescimento. E mais: teria assumido a condição de feiticeira e aplicado a receita em alguns milionários, em troca de parte de suas fortunas. Diz-se que ainda hoje, em certas madrugadas sem lua, quando já partiram os últimos garçons dos bares da Travessa do Comércio e cessou o movimento da boemia, escuta-se no beco a gargalhada de Bárbara Onça, a feiticeira, ecoando assustadoramente pelos vazios escuros do Arco do Telles” escreve Carlos Serqueira em seu artigo. Cruzar o Arco do Teles, seja durante a semana para realizar alguma tarefa do dia ou para comer em algum restaurante local, ou em um final de semana para aproveitar uma festa, é caminhar pela história do Rio. História que pode ser divertida, trágica ou assustadora, mas que faz parte da nossa Cidade Maravilhosa.